Sem consciência não há relação saudável
Nós, seres humanos, somos sociais por natureza. Aliás, existem teorias que buscam explicar o tamanho do nosso cérebro pela necessidade que tivemos de relacionar com um número maior de pessoas.
Apenas como curiosidade, o nosso limite é de 150 pessoas. Até 150, conseguimos ter uma ideia de quem é quem, o que faz, se é confiável ou não, etc. Passou deste número não conseguimos categorizar. Steve Jobs sabia disto intuitivamente, ele trabalhava com uma equipe de no máximo 100 pessoas.
O fato é que somos um todo e parte ao mesmo tempo. Como uma célula que é célula e parte de um órgão, que por sua vez é parte de um corpo, e assim por diante.
Você é um todo, mas parte de um todo maior que pode ser a sua família, a sua equipe de trabalho, a sua cidade, e assim por diante. Ou seja, você nunca é separado do todo maior, é uma relação de interdependência. Como somos
interdependentes, temos de procurar nos relacionar da maneira mais saudável possível.
Portanto, o relacionamento passa por compreender o outro, não necessariamente concordar, perceber a rede que une as pessoas com quem nos relacionamos, ou os jogos psicológicos, e, por último, atentar para a comunicação.
Marshall Goldsmith, considerado o maior coach de executivos do mundo, relata que uma diferença fundamental das pessoas que se destacam como líderes extraordinários é a habilidade de estar presente no aqui e agora, a habilidade de transmitir ao interlocutor que você está atento e inteiro naquele momento. Ele cita que esta seria uma das habilidades mais marcantes do ex-presidente norte-americano Bill Clinton. Tenho um amigo que assistiu a uma palestra do Clinton em uma faculdade de São Paulo, onde ele falou para mais de mil pessoas. O meu amigo disse que nunca havia visto uma presença tão marcante, e que, quando terminou a apresentação, centenas de pessoas falavam assim: “Ele olhou para mim.” O fato é que Bill Clinton deve ter olhado para poucos na platéia, mas a força da presença era tão grande que muitas pessoas tiveram esta sensação.
Estar presente e inteiro facilita a compreensão do ponto de vista do outro e assim facilita encontrar pontos em comum. Dizem que duas pessoas estavam discutindo porque ambas queriam a mesma laranja, um juiz veio e impôs que a laranja deveria ser dividida ao meio. Neste momento se aproximou um sábio e compreendeu que um queria o sumo para fazer uma laranjada e outro a casca para fazer um doce, se fosse dividida ambos teriam ganhado menos.
Quando não compreendemos que é uma relação de interdependência, passamos a não perceber a teia de jogos que vão surgindo. Talvez o mais comum deles seja o da “Tríade – vítima, opressor e salvador”. Onde uma pessoa assume a postura de vítima, pois está sendo atacada, pelo opressor, e uma terceira pessoa entra para salvá-la.
Este jogo pode ser percebido durante anos em relações familiares: um pai rígido quer colocar limite em um filho que não quer dureza na vida e que tem uma mãe para esconder seus mal feitos. Ou em uma empresa, onde tem um gestor que cobra resultados, e um colaborador que protege o outro que se sente perseguido.
O primeiro passo para sairmos de qualquer jogo é termos consciência, pois, o preço de não estar consciente, ou seja inocente, é a impotência. Mas não tenham dúvida, quando tentar sair do jogo, você vai ser puxado de volta pelos outros dois componentes, pois a sua saída desta posição muda completamente a dinâmica do grupo.
Toda relação humana tem como base a comunicação entre os seus componentes. Acontece que a comunicação possui uma dimensão que é explícita e outra que não, e por achar que não é falada, acreditamos que não interfere na relação, mas não é verdade.
Eu me refiro a tudo aquilo que pensamos, mas não falamos, o que Chris Argyris chama da coluna da esquerda. Seria como se dividíssemos a nossa fala em duas colunas, a da direita, é o que falamos e a da esquerda é o que pensamos e sentimos, mas não falamos. Não estou defendendo que você fale tudo o que pensa, mas tem de ter consciência do que não fala, mas que está lhe incomodando. Porque esta coluna da esquerda pode contaminar as suas relações, chegando a um ponto em que você terá reações que não saberá explicar, mas foram emoções que ficaram enterradas e que querem sair de alguma maneira. Lembre-se, a franqueza somente é uma virtude se acompanhada da diplomacia. Quanto à coluna da direita, preste atenção em sua fala, e procure diferenciar fatos de opiniões. Um fato é observável, por exemplo, eu digo “a cadeira é vermelha”, uma opinião é pessoal, “a cadeira é confortável”. Muitos desentendimentos acontecem porque confundimos fatos com opiniões.
Portanto, para se relacionar de maneira saudável, fique atento aos jogos, em especial o da vitima, opressor e salvador. Atente para onde você está, ou em que papel querem lhe colocar. Perceba a sua coluna da esquerda, e tente imaginar a coluna da esquerda do outro, tenha consciência se está falando sobre fatos ou sobre opiniões. Por último, procure estar presente, faça com que a pessoa perceba que você está ali inteiro. Desta forma, certamente, as nossas relações serão mais saudáveis e produtivas.