Como a sincronia entre líderes e seguidores gera melhores resultados
Sempre soubemos que a comunicação é uma importante habilidade de liderança. Mas a maioria das pesquisas sobre liderança está centrada em que os líderes dizem e como dizem, e não sobre os processos neurais implícitos que governam a comunicação entre as pessoas.
Uma nova descoberta da neurociência revela uma dinâmica curiosa – uma sincronização neural – durante a comunicação entre líderes e seguidores: a atividade cerebral entre eles é mais sincronizada do que a atividade cerebral entre seguidores e seguidores.
Em sua experiência, Jiang Jing do Instituto Max Planck e seus colegas pediram 11 grupos de três pessoas para realizar uma discussão sem líder, enquanto as atividades cerebrais fossem monitoradas e as conversas fossem gravadas. Eles receberam o seguinte tópico para discussão: “Um avião pousou em uma ilha deserta. Apenas seis pessoas sobreviveram: uma mulher grávida, um inventor, um médico, um astronauta, um ecologista e um vagabundo. A quem você acha que deve ser dado o balão de ar quente para apenas uma pessoa sair da ilha”? Cada grupo recebeu cinco minutos para pensar sobre o problema sozinho e, em seguida, cinco minutos para discutir o assunto em grupo. Após a discussão, uma pessoa tinha que ser escolhida como o líder para representar o grupo e relatar os resultados.
Além disso, um júri independente observava as discussões em grupo e foram convidados a escolher um líder usando seus próprios critérios. Eles também classificaram a qualidade da habilidade de comunicação das pessoas usando os seguintes sete critérios: coordenação do grupo, participação ativa, novas perspectivas, qualidade de estímulo, lógica e capacidade analítica, comunicação verbal e comunicação não-verbal.
A sincronia do cérebro foi determinada para cada interação de duas pessoas nos grupos de três pessoas. Cada vez que um se comunicava com outro, essa sincronia era determinada por uma medida chamada “coerência”, que indicava quantas vezes a frequência e a escala de ondas cerebrais de ambas as pessoas estavam em sincronia.
As conclusões do estudo foram notáveis: a maioria (9 em 11) dos juízes escolheu os mesmos líderes de grupo que os próprios participantes escolheram. Algo sobre esses líderes estava claramente destacado.
Quando um líder e um seguidor estavam falando um com o outro, o grau de coerência, ou sincronia neural, entre os dois era muito maior do que quando os seguidores estavam conversando entre si dentro dos grupos. Mas, então, a questão era, nos pares de líderes e seguidores, quem iniciou a sincronia? De quem era o cérebro que fez a sincronização com o outro?
Um teste estatístico denominado Granger Causality Analysis (Análise de Causalidade de Granger, em português), pode ser usado para determinar isso. Esse teste indicou que tanto líderes quanto seguidores iniciaram a sincronia, mas outro teste estatístico, com duas amostras t-teste, descobriu que a comunicação que induzia maior coerência e sincronia era a iniciada pelo líder quando comparada a comunicação iniciada pelo seguidor. Além disso, o grau de sincronia foi associado com a qualidade da habilidade de comunicação mencionada acima.
Os pesquisadores descobriram como poderiam prever líderes depois de 23 segundos olhando para os dados de sincronia sozinho, porque os líderes induziam muito maior coerência. Então, só de olhar para o grau de sincronia induzida quando alguém falou, pode-se dizer que era um líder.
Claramente, nem o líder nem os seguidores estavam cientes dessa sincronização neural, uma vez que tudo estava acontecendo em um nível biológico. A região do cérebro em que foi detectada a sincronia foi a junção entre o temporal esquerdo, parietal e lóbulos (lateral e superior). A sincronização ocorreu durante a comunicação verbal, mas não durante a comunicação não-verbal ou períodos de silêncio. Os resultados são importantes, pois nos ajudam a refletir sobre como são as influências de comunicação para quem é um líder, como os líderes surgem durante o processo de comunicação e quais os fatores que fazem com que sejam líderes.
Há quatro implicações importantes que líderes devem se atentar:
Não é o quanto você se comunica. É a forma como você se comunica. Quantas vezes os líderes falaram não importa. Mesmo quando eles falaram com menos frequência, era o grau de sincronização do cérebro e da qualidade da sua comunicação, medido pelos sete aspectos mencionados acima, que importava. Quanto maior a qualidade, maior a coerência e sincronia com os seguidores. Comunicações de alta qualidade podem aumentar a sincronia com os seguidores.
São suas habilidades verbais, e não suas habilidades não-verbais, que importa ao fazer decisões. Em geral, a comunicação não-verbal pode revelar muito, mas nesse experimento não afetou quem foi escolhido líder. Suas habilidades de comunicação verbal que importavam.
Quando os líderes iniciam conversas, eles devem procurar sincronizar com os seguidores ou ter os seguidores sincronizados com eles. Estar consciente do fenômeno de sincronização do cérebro ajuda os líderes a compreenderem melhor as bases biológicas da boa comunicação. Isto significa que é importante para os líderes iniciarem conversas tendo em vista o desenvolvimento de sincronia com os seguidores. Encontrar um terreno comum e um meio de conexão é importante e pode resultar em um maior nível de coerência durante a comunicação entre líderes e seguidores.
Na tomada de decisões, o que importa é a sua sincronia, não a sua autoridade. Tentar prever como os outros vão responder a você, colocando-se no lugar deles; isso é especialmente importante ao administrar as emoções de outra pessoa. É uma habilidade que pode ser desenvolvida. Líderes se beneficiariam se reservassem tempo para prever como as suas decisões iriam impactar os outros, e, em seguida, ajustar essas escolhas se necessário.
Sabemos também que a sincronia social é perturbada quando as pessoas são ameaçadas; o “alarme” do cérebro , a amígdala, registra a ameaça. Nas organizações, isso significa que para os líderes serem percebidos como líderes, eles precisam estar em contato emocional com seus seguidores , compreender os seus pontos de vista e as ameaças de direção que perturbam a cooperação.
A região do cérebro sincronizado no estudo de Jiang também é conhecida por ter um papel significativo na partilha de estados emocionais e na leitura dos estados mentais dos outros, que são importantes para manter a coesão e cooperação do grupo. Quando o cérebro é cooperativo, ele é normalmente ativado por emoções sociais compartilhadas. Se os líderes querem verdadeiramente influenciar os seus seguidores vão se lembrar disso – e se comunicar desta forma.