PERFORMANCE SOB PRESSÃO
Neste período de jogos olímpicos, sempre fico intrigado com a questão da performance sob pressão.
Por que alguns atletas sobre quem se tinha grande expectativa, desempenham tão abaixo do esperado? Aliás, em alguns casos parecem principiantes.
O que acontece com o cérebro nestes momentos?
Em inglês o verbo para descrever esta situação é “To Choke”, cuja tradução literal seria sufocar ou engasgar, mas a mais interessante que achei foi “colapso”.
O colapso ocorre quanto pensamos demais em momentos em que deveríamos deixar o aprendizado implícito fluir. Lembrando que o colapso não é um privilégio de atletas, pode acontecer com músicos, políticos, atores, ou seja, qualquer profissional que tenha de atuar sob pressão.
Todo principiante, para aprender uma atividade complexa, como um esporte, por exemplo, tem de colocar toda a sua atenção consciente, igual quando aprendemos a dirigir, ou seja, estamos ocupando o córtex pré frontal (C.P.F.), e por isto, nesta fase é tão difícil fazer duas coisas ao mesmo tempo, como dirigir e conversar. À medida que praticamos as atividades, estas se tornam automáticas, ficam armazenadas em áreas mais primitivas do cérebro, os gânglios da base.
Nesta fase (no exemplo da direção) conseguimos dirigir, conversar com alguém no carro e até com um terceiro pelo viva voz do celular.
No choking o que acontece é que o indivíduo aciona o córtex pré-frontal para lidar com uma atividade complexa que já havia sido internalizada nos gânglios da base e ao fazer isto, divide esta atividade em vários pedaços de informação e cada vez que um pedaço destes tiver de passar pelo C.P.F. a performance diminui e aumenta a chance de erros. Por isto que choking somente acontece com experts, visto que um principiante já está usando o C.P.F., pois tem muito pouco automatizado nos gânglios da base.
O Dr. Robert Gray, psicólogo da Universidade do Estado do Arizona, realizou um estudo onde pedia a exímios rebatedores de baseball para que ao mesmo tempo em que rebatessem a bola, tentassem dizer se o som emitido por um equipamento era agudo ou grave. Como esperado, eles acertavam o tom do som e não havia uma piora da performance.
Aí ele pediu para que eles percebessem em que posição o taco de baseball estava quando o som era emitido. Neste momento eles erraram, pois passaram a colocar muito foco em sua atividade. Acontece o mesmo na história da centopéia quando a joaninha pergunta como ela consegue coordenar tantas pernas, ela para um momento para pensar e não consegue mais sair do lugar.
Como sair de um colapso? O atleta tem de criar uma crença de que aquilo não é nada mais do que um jogo, que ele fez tudo que podia, só resta jogar. Isto é talvez o maior paradoxo da alta performance, pois para chegar a uma olimpíada, ser capaz de suportar todo o sacrifício de treinos, o atleta teve de se convencer que este era um evento de extrema importância para sua vida, mas na hora de performar ele tem de se convencer exatamente do contrário. Por isso se torna extremamente importante um acompanhamento psicológico que auxilie o atleta a mudar seu estado mental.
Quanto menos colapso houver no esporte, mais saborosas serão as vitórias, pois quando se vence uma disputa contra alguém que colapsou, sabemos que não ganhamos, mas sim, que o outro perdeu.