Alerta antecipado contra o Alzheimer
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam hoje no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a doença de Alzheimer.
No Brasil, há cerca de 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico. Nos Estados Unidos, um a cada nove americanos com 65 anos ou mais tem esse tipo de demência.
Terapias promissoras devem surgir em forma de novas drogas nos próximos anos para combater essa disfunção cerebral – hoje sem cura ou tratamento eficaz –, mas alguns especialistas suspeitam que ensaios clínicos falharam até agora porque os fármacos foram testados tarde demais na escala de progressão da doença. Ou seja, quando os pacientes apresentam os sintomas, seu cérebro já perdeu muitos neurônios; nenhuma terapia é capaz de reavivar células mortas, e pouco pode ser feito para criar novas.
Por essa razão, pesquisadores que realizam testes em humanos agora procuram participantes cognitivamente saudáveis, mas que já estejam à beira do declínio. Esses pacientes “pré-clínicos” de Alzheimer talvez representem uma janela de oportunidade para a intervenção terapêutica. Mas é um desafio identificar essas pessoas antes que tenham sintomas.
Atualmente, a maioria dos pacientes com Alzheimer é diagnosticada após um minucioso exame médico e extensivos testes para avaliar a função mental. Outros exames, como análises do fluido espinal, ou líquido cefalorraquidiano, e tomografias por emissão de pósitrons (PET), podem detectar sinais de doença iminente e ajudar a identificar essa janela pré-clínica, mas eles são caros ou difíceis de manipular.
“Não existe ainda um único teste barato, rápido e não invasivo que possa identificar pessoas em risco de Alzheimer”, resume Brad Dolin, diretor de tecnologia da Neurotrack, em Palo Alto, na Califórnia, empresa que está desenvolvendo um teste de triagem visual computadorizada para a doença. Ao contrário de outros testes cognitivos, a avaliação criada pela empresa Neurotrack não considera habilidades motoras ou de linguagem.
Participantes visualizam imagens em um monitor enquanto uma câmera monitora seus movimentos oculares. O teste se baseia em pesquisas realizadas por Stuart Zola, cofundador da companhia e pesquisador da Universidade Emory, em Atlanta, na Geórgia, que estuda aprendizagem e memória em macacos. Quando apresentados a um par de imagens, uma inédita e outra familiar, primatas fixam o olhar mais demoradamente na novidade. Mas se o hipocampo estiver danificado, como ocorre em pessoas com Alzheimer, o objeto de estudo não manifesta preferência pelas imagens inéditas.
Essas constatações parecem também se sustentar em seres humanos. Em um estudo publicado em 2013, Zola e seus colegas aplicaram o teste de meia hora em 92 idosos. As pontuações previram quem desenvolveria Alzheimer com três anos de antecedência. Desde então, a empresa desenvolveu um teste de cinco minutos baseado na internet, com auxílio de webcams, e iniciou um estudo de três anos com até 3 mil idosos em Xangai no inverno boreal de 2014.
Estudos adicionais nos Estados Unidos avaliarão essa ferramenta juntamente com varreduras PET e outras medidas para prognóstico pré-clínico de Alzheimer. Além disso, de acordo com a CEO da Neurotrack, Elli Kaplan, diversas companhias farmacêuticas incluirão o método em ensaios clínicos de terapias para a doença nos próximos anos.
Hemogramas, exames de varredura retinal e testes cognitivos computadorizados também são considerados como formas simples de monitoramento de Alzheimer pré-sintomático. Não está claro qual deles é mais preciso, e médicos provavelmente gostariam de aplicar vários deles para avaliar a progressão da doença.
Adaptado de Scientific American – Mente Cérebro