As suas crenças podem te curar!
O ‘Efeito Placebo’ é real ou enganação?
O efeito placebo começou a ser investigado durante meados do século XX, quando se tornou uma prática comum entre cientistas usar ensaios randomizados duplamente cegos na pesquisa. Isso significava que um procedimento ou tratamento seria realizado com dois grupos: um grupo que realmente receberia o tratamento, e outro, o chamado “grupo de controle”, que receberia substâncias inertes, embora acreditassem estar sendo tratado com remédios de verdade.
Em experimentos médicos, os pesquisadores começaram a descobrir que, por algum motivo desconhecido, os grupos de controle informaram algum efeito. Eles informaram que seus sintomas haviam aliviado, ou que a dor desaparecera por completo, mesmo que não tivessem tido nenhum tratamento de fato.
Desde então, uma vasta gama de condições diferentes foram associadas com os efeitos positivos do placebo, incluindo acne, doença de Crohn, epilepsia, disfunção erétil, úlceras, esclerose múltipla, osteoartrite e reumatismo. No início, os cientistas acreditavam que o efeito placebo era apenas um fenômeno subjetivo -ou seja, que as pessoas estavam apenas imaginando que seus sintomas melhoraram, sem que ocorressem mudanças fisiológicas reais. Mas, eventualmente, tornou-se evidente que este não era o caso.
Embora os pacientes estivessem recebendo substâncias inertes sem efeitos fisiológicos, ocorreram alterações fisiológicas reais e mensuráveis. Isso se tornou evidente em um estudo de 1978, no qual 40 pacientes receberam um placebo de analgésico após o tratamento odontológico. Pouco depois, eles foram divididos em dois grupos, um dos quais recebeu o placebo, enquanto o outro recebeu naloxeno, uma substância que impede a liberação de endorfinas no cérebro.
O segundo grupo relatou significativamente mais dor do que o primeiro grupo, sugerindo que o placebo realmente tinha um efeito químico no cérebro, que agora estava sendo bloqueado pelo naloxeno. Isso pareceu mostrar que os placebos poderiam trazer as mesmas mudanças químicas que as drogas reais.
Mais tarde, tomografias computadorizadas do cérebro mostraram os efeitos fisiológicos dos placebos. Estudos descobriram que, quando tomados como analgésicos, os placebos trouxeram atividade diminuída em partes do cérebro associadas à dor. Em outras palavras, os placebos estavam realmente causando a liberação de produtos químicos endógenos no cérebro. De forma semelhante, os pesquisadores descobriram que, quando tomados por pacientes com doença de Parkinson, os placebos poderiam causar a liberação de dopamina no cérebro.
Outros estudos mostraram alterações neurológicas semelhantes relacionadas à depressão, ansiedade e fadiga e outras alterações fisiológicas, tais como pressão arterial, freqüência cardíaca e ativação do sistema imunológico. Estudos sobre o uso de placebos em comparação com antidepressivos sugeriram que grande parte do efeito da medicação é devido ao efeito placebo.
Implicações do ‘Efeito Placebo’
O efeito do placebo é tão familiar hoje em dia que precisamos nos lembrar de como isso é estranho. Não é estranho que o alívio da dor e a cura possam ocorrer sem nenhum tratamento real? Parece que, mesmo agora, muitos cientistas não compreendem todas as implicações desse efeito. Apesar das evidências maciças que mostraram o contrário, alguns observadores céticos ainda insistem que o efeito é simplesmente devido a convencer os pacientes de que se eles sentem melhor.
Existem duas implicações principais do efeito placebo. A primeira é que a mente humana tem a capacidade de influenciar poderosamente muitos aspectos da nossa fisiologia, incluindo nossa experiência de dor, alívio dos sintomas e a cura real de algumas condições. Isso significa que temos muito mais controle sobre nossa própria saúde e nossos próprios corpos, do que normalmente assumimos. Nossos corpos não são apenas máquinas que podem ficar doentes devido ao desgaste, ou problemas mecânicos acidentais ou herdados, e isso só pode ser consertado por intervenções médicas.
Nós não somos apenas entidades fantasmagóricas que estão ligadas aos nossos corpos, semelhantes à máquinas que não podem alterar seu funcionamento, exceto por meios físicos. Nossa mente está intrinsecamente interligada com o corpo e, inconscientemente, com nossas crenças e intenções, influenciamos nossa saúde. Temos um grande potencial de auto-regulação e de autocura, que mal conhecemos.
A segunda grande implicação é que a visão convencional da relação entre a mente e o cérebro pode estar errada. Na ciência materialista, a mente é vista como um subproduto do cérebro, uma espécie de sombra que é moldada por processos neurológicos. No entanto, se esse fosse o caso, como seria possível que os processos mentais influenciassem o cérebro e o corpo? Isso seria como dizer que as imagens em uma tela do computador podem afetar o funcionamento do disco rígido do computador. Uma sombra não pode influenciar o objeto de que é uma sombra. Ou seja, o efeito placebo sugere que a mente é mais do que apenas o produto da matéria, que é, em certo sentido, primário – e não secundário – ao cérebro.
Adaptado de Psychology Today