Emagreça comendo as mesmas calorias
Um novo estudo mostra que pessoas que evitam carboidratos e comem mais gorduras, até mesmo as saturadas, perdem mais gordura corporal e tem menos riscos de doenças cardiovasculares do que pessoas que seguem a dieta low-fat indicada por especialistas a décadas.
As descobertas estão longe de serem definitivas para acabar com o debate sobre qual tipo de alimento é o grande aliado na perda de peso. Achar que uma dieta que contenha gordura, particularmente a saturada, em sua composição é danosa surgiu décadas atrás, a partir de comparações das taxas de doença entre grandes populações nacionais.
Porém, estudos recentes em que indivíduos e suas dietas foram acompanhadas ao longo do tempo, produziram um cenário mais complexo. Alguns forneceram fortes evidências de que as pessoas podem reduzir drasticamente o risco de doenças cardíacas por comer menos carboidratos e mais gordura dietética, com exceção de gorduras trans. As novas descobertas sugerem que essa estratégia reduz a gordura corporal e também reduz o peso global de uma maneira mais eficaz.
Um desses novos estudos, financiado pelos Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos e publicado nos Anais de Medicina Interna, incluiu um grupo racialmente diverso de 150 homens e mulheres – uma raridade em estudos de nutrição clínica – que foram designados a seguir dietas por um ano. Os pesquisadores limitaram a quantidade de carboidratos ou gordura que eles poderiam comer, mas não calorias globais.
“Até onde eu sei, este é um dos primeiros testes a longo prazo em que são dadas estas dietas sem restrições de calorias. Isso mostra que em um ambiente livre no dia a dia, cortar seus carboidratos ajuda a perder peso sem se concentrar em calorias. E isso é realmente importante porque alguém pode mudar o que come mais facilmente do que tentar reduzir as suas calorias”, afirma Dariush Mozaffarian, decano da Escola Friedman de Nutrição Ciência e Política, da Universidade Tufts, que não estava envolvido no novo estudo.
Dietas com poucos carboidratos e mais gordura e proteína têm sido comumente usadas para perda de peso desde que o Dr. Robert Atkins popularizou essa abordagem na década de 1970. Entre as críticas de longa data a essa dieta, a mais comum é de que ela faz com que as pessoas comecem a perder peso na forma de água ao invés de gordura corporal, e que o colesterol e outros fatores de risco de doenças cardíacas aumentam, porque os indivíduos invariavelmente aumentam sua ingestão de gordura saturada por comer mais carne e laticínios.
Muitos nutricionistas e autoridades de saúde têm “ativamente desaconselhado” dietas de baixo teor de carboidratos, disse a autora principal do novo estudo, a Dra. Lydia A. Bazzano, da Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical da Universidade Tulane. “É comum se pensar que a gordura saturada, é claro, vai aumentar, e então o seu colesterol vai subir”, disse ela. “E então coisas ruins acontecerão em geral.”
O novo estudo mostrou que não é bem assim.
Ao final de um ano de experimentos, as pessoas no grupo com baixo teor de carboidratos perderam em média cerca de 4 quilos a mais do que as pessoas do grupo com baixo teor de gordura. Eles tinham reduções significativamente maiores na gordura corporal do que o grupo de baixo teor de gordura, e melhorias na massa muscular magra – ainda que nenhum dos grupos tivesse alterado seus níveis de atividade física.
Enquanto o grupo com baixo teor de gordura realmente perdeu peso, eles aparentavam ter perdido mais massa muscular do que gordura corporal. “Eles realmente perderam massa muscular magra, o que é uma coisa ruim”, disse a Dra. Bazzano. “O equilíbrio entre massa magra e massa gorda é muito mais importante do que o peso global. E isso é um achado muito importante que mostra porque o grupo com pouco carboidrato e alto teor de gordura se saiu metabolicamente bem”.
O estudo sugere que as autoridades de saúde devem parar de focar em restrições de gordura e incentivar as pessoas a comer menos alimentos processados, especialmente aqueles com carboidratos refinados.
O cidadão comum pode não prestar muita atenção às diretrizes alimentares federais, mas sua influência pode ser vista, por exemplo, em programas de almoço escolar, razão pela qual muitas escolas proíbem o leite integral, mas servem aos seus alunos achocolatados livres de gorduras mas carregados de açúcar.