Todo problema tem solução?
A nossa percepção de uma solução geralmente funciona assim: o problema seria onde estamos e a solução seria para onde queremos ir, ou seja, uma visão dicotômica, A ou B.
Será que todos os “problemas” têm de ser solucionados desta maneira, ou melhor, será que todos têm solução? Será que não estamos sendo vítimas de um modelo mental limitante?
Veja alguns exemplos de problemas complexos presentes no mundo corporativo:
- necessidade de gerar iniciativa individual e ao mesmo tempo apoiar o desenvolvimento de equipes, isto é , a necessidade de competição e de colaboração;
- necessidade de uma estrutura rígida, mas também de flexibilidade;
- necessidade que os líderes sejam conservadores para ter estabilidade e revolucionários para gerar mudança;
- decidir entre compromissos profissionais e pessoais;
- decidir entre planejamento e ação;
- escolher entre o curto e o longo prazo.
Através da lista, podemos perceber que não são problemas do tipo A ou B, e sim A e B, isto é, precisamos dos dois, não há certo ou errado, os dois estão certos, pois ambos têm pontos positivos e sabemos que, se focarmos demais em um, perdemos as qualidades do outro.
Fazendo uma comparação com o ciclo respiratório, no qual temos o inspirar e o expirar, seria como se um fosse a competição ou a estrutura rígida e o outro, a colaboração ou flexibilidade. Qual o mais importante? Se resolvêssemos focar somente na inspiração, o que aconteceria? Seria impossível, pois precisaríamos expirar, e se, de outro lado, ficássemos somente expirando, logo teríamos também de inspirar, e assim indefinidamente.
Podemos concluir, dessa maneira, que existem problemas que não têm solução, pois seriam polaridades interdependentes e, por isso, têm de ser gerenciadas. Aliás, qualquer polaridade, mesmo que ignorada, vai ser gerenciada de alguma maneira, pois ela não deixa de existir. A questão é quão bem está sendo gerenciada.
Como podemos gerenciar melhor os pólos A e B?
- Inicialmente, deve-se responder a algumas perguntas:
- Quais os resultados positivos de focarmos no pólo A?
- Quais os resultados positivos de focarmos no pólo B?
- Quais os resultados negativos de focarmos excessivamente no pólo A,em detrimento do B?
- Quais os resultados negativos de focarmos excessivamente no pólo B,em detrimento do A?
Vamos pegar como exemplo planejamento e ação. Se forcarmos o polo do planejamento qual a vantagem? Resultados mais previsiveis, e organização, certamente. Mas se focarmos excessivamente este polo poderemos passar a negligenciar a implementação, e ficarmos muito reflexives, procrastinadores, e por demorar agir perder oportunidades importantes. Neste momento seríamos obrigados a focar na ação, com todas as vantagens, como realizar, fazer acontecer, atingir resultados, mas da mesma forma, se focarmos excessivamente neste pólo e esquecer o planejamento, tomaremos decisões erradas, sem atentar para os detalhes. Imagine esta dinâmica como o símbolo do infinito, a leminiscata (?).
Neste ponto, já temos uma visão diagnóstica dos pólos. Porém, ainda há algumas questões a serem observadas, desta vez no que se refere à dinâmica do dia-a-dia.
Quais são os sinais de que estamos ficando muito em um determinado pólo?
Por exemplo, em uma empresa, se faltar foco ou conclusão de projeto, isso pode significar que está demais no pólo da mudança e pouco no da estabilidade.
Determine, portanto, para você ou seu grupo quais serão os indicadores mensuráveis de excessos de cada pólo, isto é, quando o alarme deve tocar. A partir daí, determine também quais serão as ações pró-ativas para usufruir dos aspectos positivos de cada pólo.
Com isso, temos uma noção da dinâmica das polaridades e, assim, poderemos passar a gerenciá-las.
Uma aplicação interessante desse modelo seria na gestão de conflitos entre pessoas, grupos e departamentos. Isso acontece muitas vezes porque cada lado está defendendo o seu pólo; na verdade, as pessoas temem os aspectos negativos do pólo oposto ao seu, geralmente esquecendo-se de que o outro pólo também tem aspectos positivos.
Portanto, para revolver conflitos, temos de mostrar os aspectos positivos de cada pólo e fazer um acordo para buscar estes aspectos de ambos, ficando atentos à possibilidade dos aspectos negativos de cada pólo surgirem.
Cada vez mais um gestor terá de lidar com problemas complexos, e, apesar de acreditar que a transcendência ou integração dos pólos sempre deve ser buscada — pois, como disse Einstein, “um problema não pode ser resolvido no mesmo nível de consciência em que foi criado” —, entendo que, devido a limitações cognitivas e emocionais do indivíduo ou grupo, muitas vezes a melhor opção é a gestão das polaridades. Isso se justifica porque, utilizando a analogia da respiração do início do artigo, podemos dizer que uma das funções mais importantes de um líder é manter a empresa respirando livremente.