Não confunda autoridade com liderança
Todo animal que se organiza em hierarquias mais complexas, entre eles os primatas e nós, tem líderes, dos quais esperamos respostas. Por exemplo, quando um perigo se aproxima de um grupo de gorilas, todos olham para o gorila de costas prateadas, para ver o que ele vai fazer.
Se este perigo for algo com o qual eles convivem há milhares de anos, o gorila líder tem a resposta, pela própria seleção natural. Nesse caso, o gorila tem a autoridade, ou poder, e também a liderança. Mas imagine que a ameaça seja um caçador armado com uma espingarda. Todos podem olhar para o gorila de costas prateadas, mas ele não terá a resposta, mesmo que continue com a autoridade. Nesse caso, mesmo mudando a autoridade para outro, não vai fazer diferença, nenhum terá a resposta.
À medida que o mundo vai ficando complexo, isto está acontecendo com os humanos também, mas esperar a resposta daquele que detém a autoridade está em nosso DNA desde criança, quando, em perigo, buscamos o olhar de nossos pais, para que eles nos orientem, e, ao crescer, fazemos o mesmo, seja com nossos gerentes, diretores, políticos, líderes espirituais, terapeutas, entre outros.
A pergunta que não quer calar é: “Como exercer liderança em um mundo onde não se tem todas as respostas, inclusive porque as perguntas mudam a todo momento?”
Não tenham dúvida, exercer a liderança nos dias de hoje é muito difícil, uma vez que o líder passa a ser não aquele que tem as respostas, mas o que faz as perguntas, aquele que abre o espaço para refletirmos, durante um processo de mudança, sobre o que é essencial e deve ser preservado e o que é supérfluo e deve ser descartado. Não preciso dizer que não é tão preto e branco como está escrito; as áreas cinzas do que não é essencial é uma questão importante. O líder é aquele capaz de fazer as perguntas difíceis, que estão relacionadas a crenças, valores e comportamentos. Foi o que Martin Luther King fez nos anos 60, mostrando a incongruência entre o que os americanos falavam e o que faziam, no que se referia à igualdade entre os cidadãos.
A própria palavra “autoridade” diz: você é autorizado a fazer isto ou aquilo, se você o fizer, ótimo. O problema surge quando você, para liderar, tem de questionar os pressupostos da autoridade que você exerce. Nesse ponto, você percebe que a resposta que sempre esperavam de você não vai mais funcionar, e aqui é que começa a verdadeira liderança. Por mais que você crie uma visão inspiradora do que poderia vir a ser, muitos estarão preocupados, não com o que vão ganhar, mas com o que vão perder. É daí que entendemos porque, quanto mais autoridade se tiver, mais perigosa se torna a liderança. Por causa disso, alguns líderes são mortos, justamente por um dos seus seguidores, como foi com Gandhi, Anwar Sadat, entre outros.
Algumas dicas que poderão ser úteis nesse processo: 1) compreenda as perdas que as pessoas sofrerão; 2) reconheça a sua possível culpa pelo estado atual; 3) aceite que haverá baixas, nem todos vão mudar; 4) mantenha os opositores próximos, para entender melhor o ponto de vista deles.
Concluindo: no que se refere à liderança, se não quiser se queimar, não entre na cozinha. Essa é uma prática para quem está disposto a pagar o preço da crítica e da não unanimidade.
Aprendi mais um pouco nesse artigo. Muito bom!