Crescimento, para ser contínuo, tem de ser sustentável
Neste artigo, vou abordar a ideia de que empresas podem ser percebidas como seres vivos, devido à sua complexidade, e, a partir de então, tecerei algumas considerações.
Para ser considerado vivo, um ser tem de ter uma identidade — ou seja, algo que o diferencie de outro ou do meio externo —, ter percepção e capacidade de adaptação, a partir das informações adquiridas pela percepção. Ele faz isso de maneira auto-organizadora, ou seja, há um processo vital que mantém continuamente a sua identidade — isso é a vida. Uma célula mantém continuamente a sua forma através do seu DNA via produção de proteínas, ao mesmo tempo em que o DNA é o código para a proteína. Ele é feito da própria proteína para a qual ele fornece o código, um processo autossustentável ou autopoético. Resumindo: uma célula, como qualquer outro ser vivo, vive em um contínuo entre a autonomia, defendendo a sua identidade através de sua membrana, e a adaptação, ou dependência, ajustando-se ao meio à sua volta.
Se ela se “adaptar” demais, perde sua identidade e morre; o mesmo acontece se ela focar somente na autonomia, pois ela se desconecta do meio onde está. Considerando a empresa um ser vivo, ela também morre, aliás, segundo Arie de Geus, se compararmos o fato de que uma empresa multinacional tem um expectativa de vida média de 50 anos, enquanto temos empresas no mundo com mais de 500 anos, a organização empresarial se torna o ser com maior potencial de longevidade e com menor expectativa, ou seja, está morrendo muito mais cedo do que poderia.
Quando olhamos uma empresa, com sua identidade, percepção e capacidade adaptativa, podemos nos perguntar o que somos nesse processo. A resposta é que somos os sensores e processadores das tensões que surgem tanto dentro da empresa quanto na relação dela com o meio externo. Essas tensões são parte de qualquer processo evolutivo. Como cada pessoa é um sensor diferente, não dar ouvidos a vozes discordantes em uma empresa seria o mesmo que seu corpo somente focasse no que seus olhos vissem e ignorasse o que seus ouvidos ouvem, ou vice-versa. É fundamental atentarmos para os diversos sensores de uma organização.
Segundo Clayton Christensen, somente 10% das empresas conseguem manter um crescimento contínuo. E o pior: após um ano de crescimento excepcional, elas têm uma queda. Difícil neste caso é culpar a qualidade da gerência, pois teria de considerar que 90% deles estão abaixo da média. Talvez você me diga que é isso mesmo, a média não é o suficiente, mas eu lhe digo: se você estiver precisando de gênios para cuidar de um sistema, o seu sistema é que tem problema. Gênios sempre foram, são e sempre serão raridades.
Voltando à metáfora do ser vivo, o que cresce sem parar,como queremos fazer com as empresas, é câncer, que é uma célula que se desconecta do meio e quer extrair o máximo que puder deste meio, e acaba matando o corpo do qual faz parte. Perseguir o crescimento de maneira errada é tão ruim quanto a estagnação: seria como matar a sua galinha dos ovos de ouro, abrindo a barriga dela para tirar os ovos. Para terminar, eu pergunto a você, gestor: você tem dado ouvido aos sensores de sua empresa, especialmente para aqueles que trazem notícias ruins, as quais tendemos a negar? Está cuidando da saúde da organização? Ficando atento a possíveis células cancerígenas que estão se tornando autônomas demais e absorvendo muitos recursos, em detrimento do sistema? Somente desta maneira sua organização poderá ter uma vida longa e próspera.