Sem autoridade não há gestão
Sem conceitos não nos entendemos. Se eu falar “avião”, você sabe que é um objeto inventado pelo homem, mais pesado que o ar e que voa, mas às vezes cai. Por incrível que pareça existem aspectos fundamentais da gestão onde não se tem conceitos postulados universalmente.
Por exemplo, o que é um gerente?
A definição mais precisa que encontrei foi do psiquiatra e pesquisador organizacional canadense Elliott Jaques, na qual ele afirma que “gerente é aquele que recebe uma tarefa a ser realizada e que delega o trabalho, mas não a responsabilidade.”
Isso parece simples de colocar em prática, mas não é. Pois, para ser responsável por algo, o gestor tem de ter autoridade, senão ele vai se frustrar. Na verdade tem de ter 4 tipos de autoridades: autoridade para vetar um colaborador que entre em sua equipe e não preencha os critérios que ele considera ideais, autoridade para atribuir tarefas aos colaboradores, para avaliar o desempenho, e para removê-los de sua função quando achar necessário.
A próxima questão é quem vai atribuir esta autoridade para o gestor? Neste caso é o gestor acima dele, apoiado pela cultura e processos da empresa. Esta questão passa por um amadurecimento à medida que uma empresa aumenta de complexidade. No início, o dono da empresa é seu único gestor, é que tem a autoridade de dizer sim ou não às tarefas do dia-a-dia. Na segunda etapa do amadurecimento, o dono delega ao gestor a autoridade de dizer não, mas não de dizer sim. O risco aqui é a empresa entrar em um estágio onde somente pouquíssimos podem dizer sim e muitos podem dizer não, ou seja, muitos gerentes ocuparão o cargo, mas não terão a autoridade.
Como está o nível de autoridade dos gestores de sua empresa?
Um sistema no qual o gestor não tenha as 4 autoridades, certamente vai gerar uma série de problemas que muitas vezes acabarão sendo atribuídos à personalidade deste gerente.
Criar processos que apóiem as decisões e leve em conta a natureza humana é fundamental, pois, desde quando o mundo é mundo, os seres humanos querem mudar a sua natureza, ao invés de tentar contorná-la.
Vamos dar um exemplo, um banco asiático descobriu que quando um gerente realizava um empréstimo para um cliente e este se tornava inadimplente, o gerente tendia a refinanciar o empréstimo com muita facilidade, acredita-se como um mecanismo de defesa, para não assumir que tenha errado em sua avaliação inicial de emprestar. Ou seja, ele pensa algo como “vou insistir no erro para ver se acerto”. Como poderíamos abordar este problema, alguns, eu diria a maioria, iriam propor submeter o gerente a um treinamento.
Primeiramente devemos lembrar que este comportamento é parte da natureza humana, se apegar às perdas, conforme foi demonstrado pelo ganhador do Premio Nobel de Economia de 2002, e considerado o maior psicólogo vivo, Daniel Kahneman, criador da Teoria do Prospecto.
O banco fez o seguinte, sempre que uma situação desta surgia, o refinanciamento somente poderia ser feito por um outro gerente, que não tinha nenhum compromisso com a decisão inicial do primeiro gerente, assim ele criou um sistema que respeitou a natureza humana de se apegar às perdas, sem ter prejuízo financeiro.
Não tenho duvida de que o capital intelectual é o grande diferencial das empresas modernas, mas quantos problemas estão relacionados a um conjunto de processos que desconsideram a natureza humana, muito mais que a traços de personalidades dos indivíduos.
Procure criar em sua empresa processos que levem em consideração a natureza humana, para assim atingir os resultados desejados a um custo menor.